O equipamento da selecção para o Mundial é horrível?
Talvez seja.
Ainda assim não tão horrível como os 6500 trabalhadores que morreram na construção dos estádios do Mundial, explorados, traficados, sem condições de segurança, mínimos de dignidade e não raras vezes em regime de escravatura.
Nem tão horrível como a legitimação de uma monarquia absoluta e totalitária que em pouco ou nada se distingue do Kremlin nos métodos, onde ser mulher é não ter direitos, ser homossexual é ilegal e assumir uma religião que não o Islão dá pena de prisão até 10 anos.
Ou tão horrível como a hipocrisia daqueles que se indignam com regimes onde a sharia é lei, excepto quando estão em causa ditaduras como a Qatari, onde a sharia também é lei e prevê penas como a flagelação e a lapidação.
A diferença?
O Qatar joga o jogo do capitalismo como poucos e pode comprar legitimidade internacional como comprou o Mundial. Como compra bancos, empresas e líderes ocidentais.
Horrível é querermos dar lições de democracia e direitos humanos ao mundo, apontando o dedo às guerras que nos convém, ao mesmo tempo que enchemos de felacios um Putin chamado Tamim Al Thani.
Tirando isto tudo, o novo equipamento da selecção é algo de verdadeiramente chocante. Nem sei se esta noite vou conseguir dormir. Aliás, sou da opinião que, assim que terminarem as duas semanas a discutir a morte e o funeral da rainha, acho que nos devíamos tornar todos especialistas em equipamentos de futebol e dedicar duas semanas a contribuir para a resolução deste enorme flagelo. Não confundir com flagelação. Isso é lá no Qatar, Ditadura do Bem.